quinta-feira, 15 de abril de 2010

“Já sei! Já sei!…”

Capítulo XII

Depois de muito matutar, veio a ideia surpreendente: era preciso dar um significado ao que já tínhamos construído em três anos de trabalho intenso e gratificante; era preciso garantir que o Projeto “Poesia – Um Atalho para a PAZ” tivesse continuidade,  independente dos protagonistas do momento.

Esses conceitos levaram-me romanticamente à palavra “imortal”, que me remeteu, mais romanticamente ainda,  a outra palavra: “Academia”. Era isso! Uma Academia de Letras na escola, constituída pelos próprios estudantes! Como não tivera pensado nisso antes?

Para ajudar, havia uma experiência do passado, curta,  porém, muito significativa para mim.

Eu era uma menina de 12 anos, chegando do colégio de freiras “Escola São Teodoro de Nossa Senhora de Sion”, depois de ter passado pelo exame de admissão,  cursando a primeira série do antigo “ginásio”. Adorava a minha professora de Português - a dona Rosinha –,  estava empolgada com a análise sintática – isso mesmo! –;  apaixonada pelos livros de José de Alencar e pelas poesias românticas de J.G. de Araújo Jorge!!!( esse seria o meu perfil no orkut no ano de 1964! rsrsrsrs…)

Minhas aulas no CESPEOC – Colégio Estadual Senador Paulo Egydio de Oliveira Carvalho –, Vila Maria, zona norte de São Paulo, aconteciam no período da tarde, pois, nessa época, os meninos do ginásio estudavam pela manhã e as meninas à tarde! – isso mesmo! Somente no Colegial – atual Ensino Médio – frequentávamos o mesmo período, meninos e meninas. O meu irmão mais velho já estudava à noite e tinha um professor de Português jovem, revolucionário, atuante, diferente dos outros, que formava  e dirigia grupos de teatro com os alunos  e que presidia a Academia de Letras Euclides da Cunha, criada pelo professor Antenor Antunes Gonçalves, de Filosofia. As reuniões da Academia eram feitas aos sábados, na Casa do Estudante da Vila Maria, local muito vigiado, por causa da ditadura.

As narrativas do meu irmão me encantavam mais a cada dia! Como eu gostaria de fazer parte da Academia de Letras Euclides da Cunha! Mas só os alunos do colegial podiam compor o grupo, dada a natureza filosófica, política, ideológica de que se revestia o movimento, inacessível, pela complexidade, a crianças e adolescentes.

Mas eu queria!!!

Tive a ideia de pedir ajuda à minha querida professora de Português, Rosa Carmelita da Costa Neves. Eu adorava José de Alencar! Eu escrevia poesias! Por que não podia participar? Eu poderia estudar mais sobre esse autor e contar para os grandes da noite o que eu sabia e eles poderiam contar para mim o que sabiam, enfim, todos ganhariam com isso…

Insisti, insisti e consegui!  Lá estava eu, de uniforme, em todos os sábados que se seguiram à permissão, na Casa do Estudante, encantada com coisas que eu nem entendia, no meio daquele pessoal importante, com uma pastinha na mão, etiquetada em letras de forma: JOSÉ DE ALENCAR! Que orgulho!

Pena que durou pouco! Fecharam a Casa do Estudante e a Academia de Letras Euclides da Cunha deixou de existir com aquela configuração. Mas ela ficou no nosso coração para sempre.

Quando cheguei ao colegial, no 1ºClássico, (podíamos optar entre cursar o Clássico ou o Científico) -  e fiquei sabendo que meus professores de Português e de Filosofia seriam, respectivamente, Valdevino Soares de Oliveira e Antenor Antunes Gonçalves, meu Deus!

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A  ideia de fundar uma academia estudantil de letras na minha escola, em 2005, tomava forma e povoava os meus sonhos, de modo instigante e obsessivo, até eu decidir, finalmente, bater à porta da sala da minha diretora, em pleno último dia de aula e início do recesso, para contar e pedir:

- Delma, no ano que vem nós vamos fundar uma academia de letras aqui no Vieira! Você permite?

Ela olhou bem nos meus olhos, sorriu e falou:

- Querida, boas férias, bom descanso, no ano que vem conversaremos sobre isso…

Eu entendi que ela havia permitido e saí da sala muito feliz, com tudo na cabeça!

 

          

MEU MESTRE: PROFESSOR VALDEVINO SOARES DE OLIVEIRA –PRIMEIRO PALESTRANTE DA AEL PADRE ANTÔNIO VIEIRA 

4 comentários:

  1. Mãe... que coisa mais linda!
    Você consegue tocar nossos corações com essa história de "conto de fadas".
    Estou com os olhos cheios de lágrimas (na biblioteca do Senac) e com o coração transbordando de ORGULHO por ter uma mãe tão maravilhosa como você.
    Te amo!

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  2. Miriam Biló Gatamorta18 de abril de 2010 às 19:14

    Que emoção, que linda narrativa Sueli. Como sua filha estou com os olhos cheios de lágrimas e muito orgulhosa de ver sua garra e sensibilidade, concretizando no presente esse Projeto tão importante. Me orgulho de ter paticipada da Academia de Letras Euclides da Cunha de nossos queridos mestre Antenor e Valdevino, e mais me orgulho de ter uma amiga que cria tantas possibilidades para os nossos jovens hoje com esse lindo Projeto. Lindo!!! Lindo!!! Lindo!!! Parabéns. 18 de abril de 2010

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  3. Miriam Bilhó Gatamorta19 de abril de 2010 às 11:49

    Retificando o nome.

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  4. Sueli, Mestra entre os poetas
    (Josué G. de Araujo)

    Mulher e mãe, professora guerreira,
    Foi blindada pela musa divina.
    Estrela pequena de alma menina,
    Que sonha e que voa tal ave altaneira.

    Se a luta é árdua, e a labuta ferrenha,
    Coragem não falta amando a poesia!
    A alma de uma criança que não sorria,
    Agora sorri quando ela se empenha.

    Porque “se o espírito sopra onde quer”;
    Se a inspiração poética é de Deus;
    E se és a mestra dos alunos teus,

    Guardiã do anseio celeste - és tu mulher!
    Sendo mestra entre os poetas, na certa,
    Essas crianças, andarão na trilha certa.

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