domingo, 25 de abril de 2010

Primeiros palestrantes: os pioneiros

Capítulo XVII

Depois da emoção inicial, era hora de colocar o Projeto AEL em ação: organizar os seminários, pensar em passeios culturais que conseguíssemos viabilizar, ir “literalmente” em busca de palestrantes que se dispusessem a vir prestigiar os alunos acadêmicos.

Se, por um lado, o desafio era grande, por outro, desde o início contamos com a nossa boa sorte e  com a parceria de abnegados escritores, poetas, artistas, professores e jornalistas, que não hesitaram em penetrar em nossas almas, compartilhar com os nossos sonhos e nos presentear com a sua vasta experiência acumulada, repartindo conosco, humildemente, seus incontáveis dons.

Desde que iniciamos, essa prática tornou-se uma constante e representa uma das mais significativas realizações dentro das expectativas do Projeto.

Dá gosto ver os olhos brilhantes dos convidados, ouvindo, atentos, a apresentação de cada um dos acadêmicos. Sempre tenho a impressão de que eles se colocam  no lugar das crianças e jovens, em algum momento do passado, quando eram estudantes também, muitos deles, igualmente, da escola pública.

A empatia é recíproca : os jovens acadêmicos prestam muita atenção às explanações e depois formulam perguntas. Uma delas é frequentemente feita:

- “Quando o senhor (ou senhora) estudava, tinha AEL na sua escola?”

Até o final de 2005 recebemos oito palestrantes:                                       

                                    valdevino

                                     Prof. Valdevino Soares de Oliveira

Licenciado em  Letras pela Universidade de São Paulo, onde também fez Mestrado em Literatura Brasileira. Doutorou-se em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com a tese Poesia e Pintura: um diálogo em três dimensões. Tem desenvolvido pesquisas em Literatura Brasileira, principalmente sobre a poesia contemporânea, buscando mapear suas tendências mais significativas. É professor do Curso de Graduação e de Pós-Graduação em Letras na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, câmpus de Assis, em São Paulo.

Tive o prazer de ser sua aluna, no Colegial, e serei eternamente grata por ter aceitado o meu convite para ser o primeiro palestrante de nossa academia. Falou-nos de Alcântara Machado com muita propriedade  e marcou um momento de grande emoção na minha vida.

www.dominiosdelinguagem.org.br/pdf/d2-4.pdf

                               Escritor Waterloo Gonçalo da Silva e o menino Gabriel

Guarda Civil Metropolitano, escritor, poeta. Dois livros de poesia publicados – Único Amor e Amor Suspeito, cujos lançamentos aconteceram na Câmara Municipal de São Paulo, em sessões solenes.

Sua notável amabilidade e carinho com nossos estudantes tornaram-no um referencial na AEL, tanto sob o ponto de vista pessoal como do literário.

waterloogoncalo@hotmail.com

 

  

                             Músico e compositor Válter Pini

Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Músico, compositor e facilitador em expressão musical e criatividade. Criou o Projeto Musiconsciência, onde utiliza a arte da música a serviço de uma educação para a paz e para a cidadania. As suas criações musicais estão gravadas em 16 CDs e são canções e temas instrumentais que se destinam
a inspirar, harmonizar e a encorajar o encontro humano, seja do homem consigo mesmo ou com o outro.

Autor da canção “Te ofereço Paz”, cantada em todos os nossos eventos, como símbolo de nossos ideais maiores em prol da construção de um mundo mais humano e mais feliz.

 valterpini@cy.com.br

 

                                      Prof Manoel Teodoro Cavalcanti

Chegamos a dar aulas juntos na EMEF Figueiredo Ferraz. Um ser humano lapidado, um autor sensível. Escreveu o livro “O baianolistano”, cuja sinopse apresentou-nos assim:
“Castigados pela seca, muitos nordestinos migraram para o interior de São Paulo, seduzidos pela prosperidade das fazendas de café. Lá encontraram os imigrantes europeus, que aportaram em terras brasileiras nos fins do século XIX e início do século XX, e formaram uma grande diversidade cultural, da qual minha família fez parte. Além de toda beleza existente no Brasil, a sua riqueza natural, como florestas, rios, etc., essa diversidade cultural é uma das maiores do nosso país, pois é através da integração de sua gente, que temos a formação do povo brasileiro. Como baiano e adotado como paulistano me sinto integrado como "baianolistano", na capital paulista.”

 www.livrariasolis.com.br/produto.ver.asp?cod=79678

 

                                   Escritora Eliane de Araujoh

Fundou em 1996 o Espaço Consciência Cósmica, um Centro de Desenvolvimento Pessoal que oferece produtos e serviços para ajudar as pessoas a viverem melhor.

Formada em Bacharelado em Matemática com ênfase em Processamento de Dados.  É também Practitioner em Neurolinguística, Escritora e Comunicadora de Rádio (Mundial SP FM 95,7). 

Em 1992 começou seu trabalho de divulgação em emissoras de Rádio (SP), onde fala de assuntos ligados ao desenvolvimento pessoal e autoconhecimento.

Autora dos livros “Histórias para sua criança interior” e “Liberdade de ser”, livros que marcaram nossa história desde o começo

c.cosmica@terra.com.br

                    Escritores Carlos Frydman e João Meireles Câmara

             Carlos Frydman (Varsóvia (Polônia), 1924),  em 1956 viajou pela Europa com o Teatro Popular Brasileiro, dirigido pelo poeta Solano Trindade. Nas décadas de 1950 e 1960 publicou poemas nos jornais Notícias de Hoje (SP) e Imprensa Popular (RJ). Entre 1968 e 1994 foi diretor do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, em São Paulo SP. Participou, em 1990, no Terceiro Encontro de Escritores Judeus Latino-Americanos, realizado em São Paulo SP. No período de 1992 a 1994 foi segundo Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores. Fazem parte de sua obra poética os livros Os Caminhos da Memória (1965) e Sintonia (1990). Segundo o crítico Fábio Lucas, "Carlos Frydman propõe, em seus poemas, um fluxo de confissões íntimas ajustado a um vasto apelo à solidariedade humana. Daí a oscilação que seus versos apresentam entre o tom menor do lirismo amoroso, da expressão confidencial, e a proclamação sonora ou eloquente dos grandes valores sociais.". 

               João Meireles Câmara nasceu em Matinha (MA), em 28/03/28 . Advogado. Membro da União Brasileira de Escritores. Autor do livro “A Estratégia da Palavra”, onde não se restringe  apenas aos aspectos da Oratória clássica, mas também desenvolve o método intimista, do qual é um dos iniciadores.Aborda também temas sociais de alta relevância, não esquecendo os ensinamentos que a história tem demonstrado. Obra elaborada com o pensamento voltado para os que, na família, no lar, nas escolas, nos esportes, na tribuna ou no púlpito, fazem da palavra o instrumento de consulta indispensável a quantos, de qualquer maneira, necessitam usá-la.

           Esses dois notáveis escritores conheceram a Academia Estudantil de Letras em um sarau realizado na EMEF Jenny Gomes e, encantados com a apresentação dos alunos, manifestaram o desejo de visitar a EMEF Padre Antônio Vieira, razão pela qual organizamos uma reunião extraordinária para recepcioná-los.

www.ube.org.br

 

                                          Poetisa Maria Lúcia López

A autora é poeta, membro da União Brasileira de Escritores e da Academia de Letras de Campos do Jordão. As apresentações de Paulo Dantas, Luiz Toledo Machado e de Fernandes Neto tecem elogios à força lírica da poeta e à sua sensibilidade.

Nós pudemos testemunhar todos esses atributos no dia em que a ilustre poeta nos visitou pela primeira vez. A partir daí, configurou-se em amiga e parceira inseparável da AEL; empenhou-se para que visitássemos a Academia de Letras de Campos do Jordão e propiciássemos aos alunos um momento emocionante e inesquecível; favoreceu a realização de um concurso literário entre os estudantes e foi eleita, com justiça, membro vitalício de nossa Academia.

SESSÃO SOLENE DA POSSE DE MARIA LÚCIA LÓPEZ NA ACADEMIA DE LETRAS DE CAMPOS DO JORDÃO

 estrelopez@hotmail.com

                                      Compositora Mírian Warttusch

Compositora e Escritora Ambientalista. Desenvolveu o programa “Planeta Azul e Verde” onde no trabalha com crianças levando a conscientização sobre preservação e cuidados com o meio ambiente.
O Programa Cultural Planeta Azul e Verde é uma obra da sua criação, como ambientalista. Principais projetos que o compõem: Animais em Extinção; Reflorestar; Os Soldadinhos da Natureza; Lendas e Folclore; Mãe Natureza Visita Rios Brasileiros; Agressões à Natureza; As Grandes Forças da Natureza.

Quando nos conhecemos, ficamos por quatro horas falando sobre os nossos projetos e não nos largamos mais. 

Membro Vitalício da AEL, Mírian é a compositora de todos os magníficos hinos que cantamos nos eventos solenes. Já está produzindo o segundo CD em homenagem aos imortais.

miriansch@uol.com.br

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Aos trinta dias do mês de maio do ano de dois mil e cinco…

Capítulo XVI

“Aos trinta dias do mês de maio do ano de dois mil e cinco, na EMEF Padre Antônio Vieira, à Rua Antonino Bacaeri, 171, Jardim Nordeste, São Paulo, foi fundada a Academia Estudantil de Letras Padre Antônio Vieira…”                                                                             (constou da Ata oficial) 

- E o que estava escrito no meu coração?

Estava escrito assim:

Pequenina, desde os dez anos de idade, quando você ensinou a ler a Maria Helena, sua amiguinha de sete anos apenas; desde quando você brincava com dezoito bonecas e bonecos de todos os tipos, a maioria de pano, que você colocava sentados, perto de folhas usadas dos seus cadernos de escola, simulando ser a professora deles e lhes passava pela manhã as lições aprendidas no dia anterior; desde muito antes, quando você respondia aos adultos, orgulhosa, que queria ser “pessessôra”; desde quando você ficava ao redor da mesa da cozinha com o seu pai, cantando e decorando livretos de cordel; desde quando você passava as manhãs de sábado, e feriados, e férias, na Biblioteca Municipal da Vila Maria; desde quando você começou a inventar, escrever e contar histórias para o seu irmão mais novo; desde quando…

Desde quando?

A realidade agora me mostrava um cenário de sonho: eu era realmente professora, estava acontecendo uma festa linda na minha escola, já havia chegado o fotógrafo do jornal “O Estado de São Paulo”, os acadêmicos estavam nervosos e lindos, toda a minha escola estava envolvida com o acontecimento; muita gente importante: representantes da Coordenadoria Regional de Educação Penha, escritores, jornalistas, professores de outras escolas, que a mestre de cerimônias, nossa Assistente de Direção, a Beth, apresentava e conduzia à mesa de honra, até anunciar a chegada do “Professor Doutor José Aristodemo Pinotti, Secretário Municipal de Educação de São Paulo!”

Hoje, confesso que não fui, pessoalmente, uma boa anfitriã para o senhor Secretário, pelo menos, não correspondi naquele momento com a intensidade que deveria, porque eu não conseguia desviar o meu foco dos alunos: era para eles que eu havia sonhado tudo aquilo. Certamente era por eles que o dr Pinotti estava ali também, por isso achei que me compreenderia, e me compreendeu…

Na hora do discurso, o dr. Pinotti não se cansou de elogiar os alunos, de parabenizar a escola pela iniciativa e, num dado momento, segredou-nos que era amante das letras, que possuía dois livros de poesias de sua autoria, com os quais haveria de nos presentear depois. Após a cerimônia, deixou registrada no nosso livro de atas a seguinte mensagem:

“ESTA ESCOLA É UM POEMA!”

                                      dr Pinotti

                                   JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI

                                                 1934 – 2009

Diante de seus familiares e dos ilustres convidados, os vinte e cinco jovens tomaram posse de suas cadeiras literárias e se tornaram efetivamente acadêmicos. Um a um, eram chamados ao palco e compartilhavam com os ouvintes um pequeno trecho da obra dos seus autores.

Contradizendo a minha ideia inicial de compor a lista com autores clássicos e de renome da Língua Portuguesa, já iniciei a experiência fazendo duas concessões: a cadeira de Pablo Neruda foi a escolha de uma menina recentemente chegada da Bolívia, a Laurinha, muito tímida, e que só consegui motivar, incentivando-a para participar da AEL. A outra concessão foi para o aluno Cleiton, que , aos 10 anos, já conhecia  muitos livros do Sidney Sheldon: “minha mãe, antes de morrer, lia para mim os romances dele...”

As emoções desse dia são indescritíveis! Lembro-me de ter comentado com a escritora Eliane de Araujoh, autora do livro “Histórias para sua criança interior” sobre a intensidade profunda desse meu sentir e ela me esclareceu, dizendo que a minha alma, de tão plena, não estava cabendo em mim…

Foi isso mesmo!

OS PRECURSORES:

Cadeira nº 1 - Padre Antônio Vieira - Rafael Pereira dos Reis

Cadeira nº 2 - Adélia Prado - Amanda Caroline Lopes 

Cadeira nº 1 - Padre Antônio Vieira - Rafael Pereira dos Reis 

Cadeira nº 2 - Adélia Prado - Amanda Caroline Lopes 

Cadeira nº 3 - Alphonsus Guimarães - Amanda de Souza 

Cadeira nº 4 - Carlos Drummond de Andrade - Rodrigo Duarte 

Cadeira nº 5 - Casemiro de Abreu - Larissa dos Santos 

Cadeira nº 6 - Castro Alves - Jonatha Gomes de Souza 

Cadeira nº 7 - Cecília Meirelles - Nayara Rocha Brito 

Cadeira nº 8 - Clarice Lispector - Catarina Queiroz

Cadeira nº 9 - Fernando Pessoa - Thairine de Santana

Cadeira nº 10 - Ferreira Gullar - Jéssica Silva Pereira 

Cadeira nº 11 - Gonçalves Dias - Isabela de Brito Vieira 

Cadeira nº 12 - Guilherme de Almeida - Jonatas Marcelino

Cadeira nº 13 - Jorge Amado - Nayara Artuzo Evangelista 

Cadeira nº 14 - José de Alencar - Vitória Aguilar Silva

Cadeira nº 15 - Luiz Vaz de Camões - Raphael Rodrigues 

Cadeira nº 16 - Machado de Assis - Sabrina de Souza 

Cadeira nº 17 - Manuel Bandeira - Albert Cabral dos Santos 

Cadeira nº 18 - Mário Quintana - Beatriz dos Santos 

Cadeira nº 19 - Monteiro Lobato - Gabriel de OLiveira

Cadeira nº 20 - Olavo Bilac - Rafaeli Chacon Amaro 

Cadeira nº 21 - Pablo Neruda - Laura Condori 

Cadeira nº 22 - Paulo Leminski - Karoline Messias Santos 

Cadeira nº 23 - Pedro Bandeira - Luan dos Santos 

Cadeira nº 24 - Sidney Sheldon - Cleiton Gonçalves

Cadeira nº 25 - Vinícius de Moraes - Jéssica Félix da Silva 

terça-feira, 20 de abril de 2010

Um dia antes da festa…

Capítulo XV

- Suelizinha, tem um telefonema pra você na Secretaria. Eu fico aqui e você vai lá atender.

- Não posso… Estou em aula… Peça, por favor, para que liguem depois…

- Você não entendeu… Você precisa atender… É o Secretário, o doutor Pinotti, na linha, querendo falar com você…

- Hein!!!!!!!?????????????????????????????

- Isso mesmo! O Secretário quer falar com você… É sobre a fundação da Academia Estudantil de Letras…

Desci as escadas, trêmula. Seria verdade? Ou estariam

brincando comigo?

Era verdade! 

Do outro lado da linha, ouvi:

- Professora Maria Sueli Fonseca Gonçalves?

Fiquei muda…

- Alô! É você, professora?

- Sim, sou eu…

- Recebi o convite de vocês para amanhã, achei a ideia muito interessante, quero ver de perto… Vou chegar um pouco atrasado, porque tenho uma entrevista na TV; vocês não precisam me esperar para iniciar a solenidade…

- O senhor vem mesmo?

Ainda pude ouvir uma risada do outro lado… e mais nada! Estava perplexa!

Assim fiquei até o dia seguinte, quando pararam nove carros oficiais à porta da EMEF Padre Antônio Vieira, no Jardim Nordeste…

domingo, 18 de abril de 2010

Os preparativos

Capítulo XIV

A data escolhida para a fundação da Academia Estudantil de Letras Padre Antônio Vieira foi  30 de maio de 2005.

O convite também já estava pronto e a professora Rosane apresentou-o a mim, emocionada:

             “TODA CAMINHADA COMEÇA COM UM PASSO”

               Prezado Educador

                No dia 30/05/05, às 11h00, na EMEF  Padre Antônio Vieira, Rua Antonino Bacaeri, 171, Jardim Nordeste, Capital, acontecerá a cerimônia de fundação da ACADEMIA ESTUDANTILL DE LETRAS PADRE ANTÔNIO VIEIRA, com a posse solene dos jovens acadêmicos e representações literárias.

               Sua presença será motivo de honra e de orgulho para nossa escola.

Foi assim que o sonho começou a ganhar forma.

Toda a escola se mobilizou. As professoras do Ciclo I – Márcia, Cidinha, Maria do Carmo, Sueli – de Educação Física - e todos os que pudessem ajudar – iriam cuidar da  ornamentação. O  trabalho exigia muita paciência e capricho: as professoras faziam bolinhas com papel crepom azul claro, bem amassadinhas, e fixavam em um painel, bem juntinhas, para provocar um efeito homogêneo e artístico em todo o palco.Lembro-me até hoje da emoção que senti quando vi o trabalho concluído!

As coordenadoras Kátia e Eliana me rodeavam o tempo todo, para oferecer ajuda. As duas me acompanharam na elaboração do cerimonial. A Eliana  “ensaiou” como as cadeiras iam ficar no palco e até conseguiu uma caneta “de ouro” para os acadêmicos assinarem os seus nomes no livro da posse.

Os alunos  acadêmicos – os protagonistas - não cabiam em si de ansiedade e os  ensaios prosseguiam de maneira intensa. Os maiores - os das 8as séries - representariam trechos previamente estudados dos “Sermões” de Vieira e os menores – os das 5as séries - interpretariam trechos dos seus respectivos autores.

Aproximadamente quinze dias antes da festividade, a professora Rosane convenceu-me da importância de estendermos os nossos propósitos para além dos limites da nossa escola. Ela me disse que os alunos mereciam uma projeção especial, que ia ser muito bonito e que precisávamos divulgar o evento para “Deus e o mundo”! Então, pedi que ela se encarregasse dessa  missão, acessando os contatos possíveis pela Internet.

Curiosamente, depois da nossa conversa, também me animei a tomar uma decisão: enviei o convite da fundação da AEL PADRE ANTÔNIO VIEIRA para as jornalistas Fabiana da Cunha Pereira e Vanessa Gonçalves, que incluíram o nosso evento na “Pauta Social” do dia 30 de maio de 2005.

Não podíamos imaginar a repercussão dessas ações e o seu significado para os rumos que  a AEL tomaria a partir fundação!

PAUTAS

25/5/2005

1ª ACADEMIA ESTUDANTIL DE LETRAS PADRE ANTÔNIO VIEIRA

Lançamento terá posse de 25 "ilustres" e recitação de sermões

No dia 30 de maio, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Antônio Vieira (Rua Antonino Bacaeri, 171, Jardim Nordeste), em São Paulo, às 11h, acontecerá a fundação da Academia Estudantil de Letras Padre Antônio Vieira, com a posse solene dos jovens acadêmicos e representações literárias. O objetivo principal é incentivar os estudantes a descobrir o gosto pela literatura e propiciar o desenvolvimento de seus talentos e vocações.
Presenças como a da escritora Eliane de Araújo, autora do livro Histórias para a sua criança interior, e representantes da Coordenadoria da Educação já foram confirmadas.
Vinte e cinco patronos foram escolhidos pelos alunos, a partir de textos oferecidos em sala de aula, entre eles: Carlos Drummond de Andrade, Castro Alves, Fernando Pessoa, Jorge Amado, Machado de Assis e Paulo Leminski. Cada um dos 25 alunos fará as vezes dos "imortais" e tomará seu assento. A vida do grande orador e missionário Padre Antônio Vieira (1608-1697) será relembrada, e alunos da oitava série do ensino fundamental interpretarão trechos de seus sermões mais consagrados. Os alunos vêm memorizando os sermões e ensaiando há três meses.
O grupo Poesia - Um Atalho para a Paz, que já se apresentou no Teatro João Caetano e que existe na escola desde o ano 2002, também participará do evento, com interpretações poéticas de autores de renome. No encerramento da fundação da Academia, um coral formado pelos alunos das quintas séries do Ensino Fundamental entoará a música Te ofereço Paz, de Valter Pini.
Efervescência literária e atividades futuras
Dando continuidade ao projeto, haverá encontros semanais na escola para leituras, ensaios e apresentações. Uma vez por mês, haverá um momento especial para que cada acadêmico - um aluno fazendo às vezes de um dos "imortais" - terá a oportunidade de divulgar, a outros estudantes e convidados, a vida e a obra do autor que representa.
Segundo os organizadores, pretende-se que a Academia Estudantil de Letras Padre Antônio Vieira seja um local de efervescência literária, onde a paz social seja efetivamente vivenciada, e as manifestações de violência e falta de amor, definitivamente esquecidas.
A perenidade que caracteriza uma Academia de Letras será mantida porque as cadeiras ocupadas desde a data da fundação, em 30 de maio de 2005, só serão substituídas, ou quando os primeiros alunos "acadêmicos" saírem da escola (ao se formarem), ou quando tiverem de se ausentar por motivo relevante.
Possibilidade de replicação
Essa é uma iniciativa que beneficia parte dos estudantes da rede municipal de ensino, que poderão exercitar, na prática, o tão falado protagonismo juvenil. Os educadores idealizadores do projeto esperam que essa iniciativa possa ser replicada em outras escolas.
Serviço
Fundação da 1ª Academia Estudantil de Letras Padre Antônio Vieira
Data: 30 de maio, às 11h
Local: Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Antônio Vieira, localizada à rua Antonino Bacaeri, 171, Jardim Nordeste - São Paulo

CONTATO

Nome: Maria Sueli Fonseca Gonçalves
Fone: 11 6280-6566
Empresa: Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Antônio Vieira
Pauta incluída por: Lorenzo Manica
Clique aqui para maiores informações

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A estratégia

Capítulo XIII

Desde 2002 eu acompanhava as mesmas turmas, da 5a à 8a série. Estava estabelecido um vínculo importante entre nós.

Mas, dessa vez, eu teria de optar, na atribuição das aulas, por apenas uma das “minhas” 8as séries, em prol da ideia que se materializava, pouco  a pouco. 

Se eu escolhesse todas as 8as séries, atendendo à minha vontade de acompanhar os “petelecos” até o final do curso, como havia planejado desde o início, eu teria menos oportunidade de cativar os alunos mais jovens para a  futura  Academia Estudantil de  Letras Padre Antônio Vieira.Evidentemente, nessa perspectiva, os alunos das 5as séries assumiam um papel  importantíssimo para a implantação do novo Projeto.

Além disso, eu tinha sérias razões para acreditar que aqueles “doze” não me deixariam mais, fossem ou não fossem meus alunos de Português naquele ano. 

……………………………………………………………………………………………………………..

As crianças pareciam passarinhos alvoroçados quando eu lhes falava da Academia.

Certa vez, eu estava empolgada demais e disse a eles, sem avaliar a necessidade de explicitar melhor a afirmativa,  que “ser acadêmico era ser ïmortal”. Surgiram, então, candidatos a acadêmicos porque lhes agradava a ideia de não morrer…  Outros associavam a academia a práticas esportivas…

Dirimidas todas as dúvidas, apresentaram-se, finalmente, 25 acadêmicos conscientes e convictos, treze dos quais para representar novos autores e doze para substituir os precursores, ou seja, assumir suas cadeiras ao final do ano.

Tudo planejado! Faltava somente marcarmos o grande dia!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

“Já sei! Já sei!…”

Capítulo XII

Depois de muito matutar, veio a ideia surpreendente: era preciso dar um significado ao que já tínhamos construído em três anos de trabalho intenso e gratificante; era preciso garantir que o Projeto “Poesia – Um Atalho para a PAZ” tivesse continuidade,  independente dos protagonistas do momento.

Esses conceitos levaram-me romanticamente à palavra “imortal”, que me remeteu, mais romanticamente ainda,  a outra palavra: “Academia”. Era isso! Uma Academia de Letras na escola, constituída pelos próprios estudantes! Como não tivera pensado nisso antes?

Para ajudar, havia uma experiência do passado, curta,  porém, muito significativa para mim.

Eu era uma menina de 12 anos, chegando do colégio de freiras “Escola São Teodoro de Nossa Senhora de Sion”, depois de ter passado pelo exame de admissão,  cursando a primeira série do antigo “ginásio”. Adorava a minha professora de Português - a dona Rosinha –,  estava empolgada com a análise sintática – isso mesmo! –;  apaixonada pelos livros de José de Alencar e pelas poesias românticas de J.G. de Araújo Jorge!!!( esse seria o meu perfil no orkut no ano de 1964! rsrsrsrs…)

Minhas aulas no CESPEOC – Colégio Estadual Senador Paulo Egydio de Oliveira Carvalho –, Vila Maria, zona norte de São Paulo, aconteciam no período da tarde, pois, nessa época, os meninos do ginásio estudavam pela manhã e as meninas à tarde! – isso mesmo! Somente no Colegial – atual Ensino Médio – frequentávamos o mesmo período, meninos e meninas. O meu irmão mais velho já estudava à noite e tinha um professor de Português jovem, revolucionário, atuante, diferente dos outros, que formava  e dirigia grupos de teatro com os alunos  e que presidia a Academia de Letras Euclides da Cunha, criada pelo professor Antenor Antunes Gonçalves, de Filosofia. As reuniões da Academia eram feitas aos sábados, na Casa do Estudante da Vila Maria, local muito vigiado, por causa da ditadura.

As narrativas do meu irmão me encantavam mais a cada dia! Como eu gostaria de fazer parte da Academia de Letras Euclides da Cunha! Mas só os alunos do colegial podiam compor o grupo, dada a natureza filosófica, política, ideológica de que se revestia o movimento, inacessível, pela complexidade, a crianças e adolescentes.

Mas eu queria!!!

Tive a ideia de pedir ajuda à minha querida professora de Português, Rosa Carmelita da Costa Neves. Eu adorava José de Alencar! Eu escrevia poesias! Por que não podia participar? Eu poderia estudar mais sobre esse autor e contar para os grandes da noite o que eu sabia e eles poderiam contar para mim o que sabiam, enfim, todos ganhariam com isso…

Insisti, insisti e consegui!  Lá estava eu, de uniforme, em todos os sábados que se seguiram à permissão, na Casa do Estudante, encantada com coisas que eu nem entendia, no meio daquele pessoal importante, com uma pastinha na mão, etiquetada em letras de forma: JOSÉ DE ALENCAR! Que orgulho!

Pena que durou pouco! Fecharam a Casa do Estudante e a Academia de Letras Euclides da Cunha deixou de existir com aquela configuração. Mas ela ficou no nosso coração para sempre.

Quando cheguei ao colegial, no 1ºClássico, (podíamos optar entre cursar o Clássico ou o Científico) -  e fiquei sabendo que meus professores de Português e de Filosofia seriam, respectivamente, Valdevino Soares de Oliveira e Antenor Antunes Gonçalves, meu Deus!

………………………………………………………………………………………………………….

A  ideia de fundar uma academia estudantil de letras na minha escola, em 2005, tomava forma e povoava os meus sonhos, de modo instigante e obsessivo, até eu decidir, finalmente, bater à porta da sala da minha diretora, em pleno último dia de aula e início do recesso, para contar e pedir:

- Delma, no ano que vem nós vamos fundar uma academia de letras aqui no Vieira! Você permite?

Ela olhou bem nos meus olhos, sorriu e falou:

- Querida, boas férias, bom descanso, no ano que vem conversaremos sobre isso…

Eu entendi que ela havia permitido e saí da sala muito feliz, com tudo na cabeça!

 

          

MEU MESTRE: PROFESSOR VALDEVINO SOARES DE OLIVEIRA –PRIMEIRO PALESTRANTE DA AEL PADRE ANTÔNIO VIEIRA 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Outra vez era preciso ter uma ideia

Capítulo XI

O tempo passou muito mais depressa do que eu poderia supor.

Aqueles meninos e meninas que abraçaram o sonho junto comigo estavam prestes a concluir o ensino fundamental na EMEF Padre Antônio Vieira.

Final do ano de 2004, eu às voltas com os meus diários,  fichas de acompanhamento, correção das últimas atividades, fechamento das notas, conselho etc…

A minha maior preocupação era o destino do “Poesia – um atalho para a PAZ”. Tinha de haver uma solução, isto é, eu não me conformava com a situação de, ao término do ano seguinte, o Projeto simplesmente deixar de existir, com a saída dos doze.

O que fazer, então? Começar tudo de novo? E o que ficasse pra trás seria simplesmente ignorado, como se nunca houvesse exisitido?

Era preciso ter uma ideia e…rápido!

terça-feira, 13 de abril de 2010

“ Te ofereço Paz”

Capítulo X

Dizem que quando estamos em estado de graça, as bênçãos dos céus jorram sobre nossas cabeças, em profusão.

Foi o que senti quando aquela amiga começou a cantarolar, ao meu lado, uma canção particularmente bonita, cuja letra era assim: 

Te ofereço PAZ

Te ofereço AMOR

Te ofereço AMIZADE

Ouço tuas NECESSIDADES

Vejo tua BELEZA

Sinto os teus SENTIMENTOS

Minha SABEDORIA flui

De uma FONTE SUPERIOR

E reconheço esta fonte em TI

TRABALHEMOS JUNTOS!

Pedi a ela:

- Canta de novo?

- Que canção maravilhosa!

Perguntei:

De quem é a autoria?

Ela me disse que não sabia. E me ensinou os gestos que ilustravam a música, explicando o belo significado.

“Só pode ter sido escrita por um anjo”- pensei -“Preciso ensiná-la aos alunos.” 

Algum tempo depois, pesquisando na Internet, encontrei o autor:

Válter Pini.

Tornamo-nos amigos e sua canção tornou-se para nós uma espécie de hino.

 

OBS: Aprendi os gestos de uma maneira um pouco diferente. Quando conheci Válter Pini, tentei ensinar aos alunos a maneira correta, mas eles já assimilaram de tal maneira como ensinei no início, que não conseguem mudar… 

segunda-feira, 12 de abril de 2010

“Professor, o show é seu!”

Capítulo IX

Lá na sala dos professores, no livro de recortes do Diário Oficial, eu li o edital sobre a participação de professores em um evento que iria acontecer no “Teatro João Caetano” e para o qual estávamos todos convidados.

Não hesitei. Inscrevi o grupo do Projeto “Poesia- Um Atalho para a Paz”.

Então, na quinta-feira seguinte, fui logo falando:

- Vocês não imaginam que coisa linda aconteceu! Estamos inscritos para uma apresentação em um teatro de verdade! Lá, onde atuam os grandes artistas do nosso país, como Antônio Fagundes e…

_ Quem, professora? Antônio… o quê?

Só então me dei conta de que precisava atualizar os meus exemplos, para impressioná-los. Busquei na memória pelos  nomes dos ídolos deles, e assim, antes de acabar o encontro, eu já tinha diante de mim um grupo eufórico de adolescentes, escolhendo os poemas e até os figurinos para a apresentação do grande dia!

Lembro-me da Rosane, da Delma (diretora), da Kátia e da Eliana(coordenadoras) ajudando na maquilagem e em tudo o que foi necessário.

Ao final da magnífica apresentação, choramos abraçados, tomados por uma emoção que, tínhamos certeza, não estava cabendo dentro de nós…

Foi lindo!

domingo, 11 de abril de 2010

“Passou um cometa, eu me agarrei na cauda dele e fui junto…”

Capítulo VIII

  A nossa história estava ficando cada vez mais emocionante.

Comecei a perceber que os alunos tratavam-se uns aos outros pelos nomes dos “seus”autores e também comecei a ouvir esses tipos de frases:

- Professora, a Adélia Prado não vem hoje…

- Agora só uso o perfume “Vinícius”, professoraSinta o cheiro…Que delícia!

Naturalmente, esses comentários me faziam rir, mas davam também uma dimensão do que estava acontecendo no íntimo de cada um: os jovens estavam de fato apaixonados pela Poesia, com a qual se identificavam mais a cada encontro.

Nossos ensaios aconteciam camuflados, isto é, cuidávamos para que ninguém nos visse, para preservar a surpresa e criar um certo suspense…

Porém, havia uma pessoa – uma professora da escola – que “adotamos” desde o começo. Precisávamos dela, dos seus olhos brilhantes e do seu “Que lindo!”após cada apresentação.

A professora Rosane é dessas pessoas que não se consegue descrever facilmente. Dotada de uma sensibilidade artística incrível – algum tempo depois descobri que pintava quadros - , incentivava todas as nossas ações, vibrava com as nossas primeiras conquistas e não poupava nenhum esforço para colaborar com o que estivesse ao seu alcance. Atuava, na época, na Informática Educativa, e eu não possuía a mínima habilidade no manuseio dos computadores. Então, a Rosane deixava tudo muito bonito naquelas telas que eu via repetidas vezes, encantada e agradecida! A maior de suas virtudes sempre foi a modéstia. Quando o Projeto “Poesia – um atalho para a Paz” começou a  ficar conhecido, e eu lhe concedia os merecidos créditos,  ela sempre respondia assim:

“Eu não fiz nada… Passou um cometa, eu me agarrei na cauda dele e fui junto… só isso!”

    

PROFESSORA ROSANE: O ANJO DA GUARDA

sábado, 10 de abril de 2010

Sensibilidade compartilhada

Capítulo VII

Nessa época eu dava aulas de Língua Portuguesa em duas escolas: EMEF Padre Antônio Vieira e EMEF Pref... José Carlos de Figueiredo Ferraz.

A distância entre uma escola e outra é relativamente pequena, de modo que fazia o percurso a pé.

No caminho, encontrava alunos das duas escolas.

Os alunos do Padre atravessavam a rua para me beijar, mesmo que  eu tivesse estado com eles há alguns momentos apenas, na última aula.

Os alunos do Figueiredo eram mais retraídos nesse sentido. Se me encontrava com eles, a maioria me cumprimentava, disfarçadamente, do outro lado da rua. Quando chegava à sala de aula, no entanto, eles me cobriam de carinho e de beijos.

Concluí que eram tímidos e que tinham reservas para externar as emoçoes.

Tive, então, a ideia de levar os alunos da Poesia, do Vieira, para o Figueiredo, a fim de apresentá-los ao Projeto e, quem sabe, diante da receptividade, convidá-los a participar.

No início, houve um certo “estranhamento”, mesmo porque era notória uma pequena rivalidade entre as duas escolas.

Mas, quando os meninos começaram a declamar os seus poemas, os anfitriões não demoraram a demonstrar admiração e respeito por eles, aplaudindo-os com entusiasmo, após as apresentações.

O resultado dessa aproximação  foi muito positivo: agregamos ao Projeto “Poesia – um atalho para a Paz” – os alunos do Figueiredo., totalizando 35 componentes.

Não demorou muito para que fôssemos convidados a participar de uma reunião de pólo para mais de 400 professores da DREM 7, no Clube Esportivo da Penha.

Foi a nossa primeira apresentação “importante” e a repercussão não poderia ter sido melhor.

No  dia seguinte enviei a cada um dos alunos esta cartinha:

Estimado aluno,

           Estimada aluna…

Ontem uma coisa maravilhosa aconteceu: você conseguiu sensibilizar uma plateia imensa de educadores, com sua presença, seu sentimento, sua emoção.

Nenhum barulho, por insignificante que fosse, ante Camões, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Mário Quintana, Drummond, Vinícius de Moraes, Gonçalves Dias, Paulo Leminski, Roseana Murray…

Parabéns, principalmente, por você gostar de POESIA, declamar POESIA, sentir POESIA e… por VOCÊ SER A PRÓPRIA POESIA…

Nunca desanime diante de pensamentos negativos que permeiam o mundo de nossos dias, tais como: “os jovens são alienados, não se preocupam com a realidade, desistiram de construir um mundo melhor, são opacos, invisíveis, vazios…” Você provou que tudo isso é ficção, que você continua sendo o esteio da humanidade!

Obrigada por permitir que eu divida com você esse momento ÚNICO, obrigada por permitir que eu “coloque na sua, a minha mão…”

                                                                                       Professora Sueli

Um a um eles foram chegando…

Capitulo VI

_ Professora, eu trouxe mais um…

E na outra semana mais um chegava…

Toda quinta-feira a cena se repetia e o grupo ia aumentando: Karoline, Rafael, Jéssica, Jéssica, Amanda, Albert, Amanda, Rodrigo, Nayara, Thairine, Jonatas e Luan.

E com eles foram chegando: Paulo Leminski, Padre Antônio Vieira, Vinícius de Moraes, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Manuel Bandeira, Alphonsus Guimarães, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Guilherme de Almeida e Pedro Bandeira.

“Amor, então, também acaba?

Não que eu saiba…” Paulo  Leminski

(…)

“O bicho, meu Deus, era um homem!”  Manuel Bandeira

(…)

Que não seja imortal posto que é chama,

mas que seja infinito enquanto dure”    Vinícius de Moraes

(…)

“Não sou alegre nem sou triste,

sou poeta.”   Cecília Meireles

(…)

“Mas andavas tão perdido em teu sonho dourado,

meu pobre sonhador,

que nem sequer me viste…” Guilherme de Almeida

(…)

Sua alma subiu ao céu,

seu corpo desceu ao mar…” Alphonsus Guimarães

(…)

Não somos todos filhos do mesmo Deus?”  Padre Antônio Vieira

(…)

“Somos noivo e noiva.”  Adélia Prado

(…)

“Eu te amo… tu me amas…

desde os tempos medievais…”    Carlos Drummond de Andrade

(…)

Mas que importa saber quem sou?

Eu sou eu… eu sou assim… sou menino.”  Pedro Bandeira

(…)

“O poeta é um fingidor…”  Fernando Pessoa

(…)

“Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém.”

      Ferreira Gullar

…………………………………………………………………………………………………………….

Nascia assim, espontaneamente, o Projeto POESIA-UM ATALHO PARA A PAZ, que viria resultar anos depois no Projeto AEL – Academia Estudantil de Letras.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Debaixo dos eucaliptos

Capítulo V

Já havia voltado à minha rotina de ficar na sala dos professores, às quintas-feiras, preparando ou corrigindo atividades.

Nem prestava mais atenção à maçaneta da porta e já havia me convencido de que seria mesmo muito difícil algum aluno sair de sua casa para vir se encontrar comigo  só para conversar sobre poesia.

Já estava convicta de que precisava  ter alguma nova ideia, quando a porta se abriu e um rostinho lindo e tímido se apresentou, balbuciando não sei o quê… não entendia o que dizia a menina, enquanto  fixava os olhos em mim.

A professora de Matemática  trouxe-me à razão:

- Vai lá! Não é aquela história da poesia que você contou?

Só então decodifiquei claramente o que a menina dizia: “Eu me apaixonei!”

Ah! Não dá para descrever a emoção que senti!

Saí imediatamente da sala e me dirigi com ela para o pátio externo. Sentamos à sombra dos eucaliptos.

Demorou algum tempo para eu me refazer da enorme emoção e agir com naturalidade:

- Que bom você ter vindo!

- Professora, eu escrevo poesias…

- Verdade? Eu também escrevo…

Não sei por quanto tempo ainda ficamos conversando sobre o assunto.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O plano quase perfeito

Capítulo IV 

   Era quinta-feira. 

   Na sala dos professores, pedi aos colegas um pouco de atenção para contar algo muito importante:

_ Pessoal! Preciso falar com vocês! Preciso do apoio de vocês!

   Pelo meu tom de voz, todos perceberam que o assunto era sério.

   Contei:

_ Pode ser que, a qualquer momento, alguém bata à porta e diga: “Eu me apaixonei”.

Todos me olharam sem entender nada. Então, eu expliquei o que havia combinado com os alunos no  início da semana.

Feitos os inevitáveis comentários que o assunto provocou, fiquei quieta, com os olhos fixos na maçaneta da porta, esperando pelo  movimento que não veio.

No quê o plano falhara?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O convite

 

Capítulo III

Depois de a “Serra do Rola Moça” seguiram-se muitas outras apresentações.

Aconteciam de repente, sem aviso prévio, ora numa sala, ora noutra, sempre na última aula, de maneira inédita, para que o “presente” fosse único.

Um dia aconteceu um episódio bem interessante.

Estava na 5a “D”, convidando um aluno para dançar comigo um bolero de Ravel, no exato momento em que  a auxiliar de período entrou para dar um recado à classe.

Não sabemos explicar o  que aconteceu exatamente. O certo é que não conseguimos interromper a cena , isto é, a auxiliar de período encostou-se à lousa e ficou assistindo a nossa dança pacientemente, envolvida também com aquele momento mágico.

Tinha chegado o momento de fazer o convite:

- Vocês estão gostando dessas aulas-surpresa?

Alguns riram, outros  balançaram a cabeça afirmativamente, com expressão sonhadora.

Então, olhando fixamente para todos eles, continuei:

- Tenho um convite especial para aqueles que gostam de poesia ou simplesmente queiram se encontrar comigo para conversar sobre poesia, fora do horário das aulas, às quintas-feiras. Vamos combinar: vocês chegam à sala dos professores, batem à  porta e falam a senha, baixinho:  “Eu me apaixonei”. Então, eu prometo largar tudo o que estiver fazendo e sair com vocês.

Bateu o sinal.

sábado, 3 de abril de 2010

“Toda caminhada começa com um passo”

 

Capítulo II

Utilizar a literatura, notadamente a poesia, como fator de humanização e de resgate de valores, foi a estratégia que escolhi, por afinidade.

Última aula do dia, 5ª série “A” - primeira sala que se avista depois de subir o primeiro lance de escadas e virar à direita -, EMEF Padre Antônio Vieira, ano de 2002. Alunos alvoroçados, à espera do meu cumprimento habitual à porta, antes  da entrega do “Não custa nada”. 

O “Não custa nada” era uma coleção de mensagens que começavam sempre com essa mesma frase, que eu entregava  no início das aulas, antes de fazer a chamada. Depois perguntava se alguém gostaria de comentar  sobre o que estava escrito no cartãozinho. Assim começávamos todas as aulas de Língua Portuguesa,  propiciando uma reflexão e uma conversa sobre as frases que cada um tinha recebido. Lembro-me   ainda de algumas dessas mensagens:

“Não custa nada ser notado pelo certo

e não pelo errado”

“Não custa nada acreditar

que há valores que não mudam

por mais que tudo mude”

“Não custa nada acreditar

que você pode ser um vencedor

                     (…)

Naquele dia, porém, a rotina fora propositadamente  alterada. Entrei na sala declamando o poema “A Serra do Rola Moça”, de Mário de Andrade, depois de haver treinado por um mês, para fazer bonito. Lembro-me que por duas ou três vezes, nesse período, chegara até  a  “perder” o ponto de descida da lotação, indo para a escola ou voltando para casa, porque estava entretida, memorizando o texto.

Enquanto eu declamava,  fui percebendo que  os alunos  iam se aquietando,  pouco a pouco, chegando a demonstrar, pela expressão do rosto, a emoção que a leitura dramática da narrativa lhes causava.

Sentimentos aflorados, curiosidade despertada.

O silêncio reinava na sala agora  como se fosse a primeira aula do dia e não a última. Nenhum vestígio do alvoroço inicial.Vibrei por dentro. Parecia que estava dando certo. E estava!

Ao final da apresentação,  estava convicta de que havia dado o primeiro passo para uma mudança significativa, embora, nem sonhasse ainda com a formação de uma academia estudantil de letras na escola, o que acabou acontecendo a partir dessa e de outras experiências que se seguiram.

Serra do Rola Moça

Mário de Andrade

A Serra do Rola Moça
Não tinha esse nome não
Eles eram do outro lado
Vieram na vila casar
E atravessaram a serra
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo
Antes que chegasse a noite
Se lembraram de voltar
Disseram adeus pra todos
E puseram-se de novo
Pelos atalhos da serra
Cada qual no seu cavalo
E a Serra do Rola Moça
Não tinha esse nome não
Os dois estavam felizes
Na altura tudo era paz
Pelos caminhos estreitos
Ela na frente, ele atrás
E riam, como eles riam
Riam até sem razão
A Serra do Rola Moça
Não tinha esse nome não
As tribos rubras da tarde
Rapidamente fugiam
E apressadas se escondiam
Lá embaixo nos socavões
Temendo a noite que vinha
Porém os dois continuavam
Cada qual no seu cavalo
E riam, como eles riam
E os risos também casavam
Com as pisadas dos cascalhos
Que pulando levianinhos
Da vereda se soltavam
Buscando despenhadeiro
A Serra do Rola Moça
Não tinha esse nome não
Ah! fortuna inviolável
O casco pisara em falso
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo
Nem um baque se escutou
Fez-se um silêncio de morte
Na altura tudo era paz
Chicoteando o seu cavalo
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou
E a Serra do Rola Moça
Rola Moça se chamou

 

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A tomada de consciência: eu tinha de fazer alguma coisa!

Capítulo I

No recreio, ouvi um palavrão enquanto passava em direção à sala dos professores. Meus olhos encontraram os do menino que havia xingado o colega um segundo antes, que, sem constrangimento, quase me derrubou, sem se desculpar.
Um tempo atrás eu teria ouvido: "Pára, meu, a professora tá passando... olha o respeito!"
O chão estava repleto de resíduos de alimentos - do lanche do dia - e a gritaria era insuportável!
Uma inspetora de alunos gritava, paradoxalmente, pedindo calma aos que se debatiam irracionalmente no pátio. Um outro grupo completava a cena, em coro, clamando, insensível: "Bate, bate!..."
Outra vez quase me derrubaram. Não tive qualquer reação. Há dias vinha observando essa situação aflitivamente repetitiva, enquanto caminhava, na hora do recreio, rumo à sala dos professores.
Ainda pude ver os cartazes que havia pedido aos alunos das quintas séries uma semana antes:-"Alguém duvida de que a palavra tenha vida?"-, rasgados e destruídos.
Finalmente, cheguei à sala dos professores, visivelmente abatida e tristonha.
Encontrei uma professora chorando, desgostosa com a sétima série de antes do recreio. Não tive, dessa vez, ânimo para manifestar-lhe minha solidariedade. Estava igualmente carente, mas consciente de que

“EU TINHA DE FAZER ALGUMA COISA!”